Quanto tempo passou?
Tanto que já nem sei.
Os olhos foscos já nem me deixam ver o relógio, preguiçoso e implacável inimigo, que só deixa andar os ponteiros à sua própria vontade.
O que sei é que o tempo dói a passar. Até estares de volta, tudo custa a passar, nada segue o seu rumo.
Onde estou?
Já não interessa. Silenciosamente, chamo por ti, que venhas, que chegues célere e são. Agora estás mais perto, quase a chegar, quase ao pé de mim, mas o quase tarda em tornar-se agora. E fico assim, pequenina, a chorar a tua chegada e a repetir vezes sem conta, para que o tempo corra, agora estás mais perto, estás quase a chegar...
Quando chegas, já não vens inteiro. Vens tão pequeno quanto eu, foste e não querias ter ido, estás, mas devias ter dado outra volta. A última. Custas a chegar-te. Também não consigo. Perverso orgulho, que nos tolhe a vontade. E de repente somos dois estranhos. Já não me importo quantas voltas dás, já não choro o teu regresso. Quando chegares, estou cá. Consigo escapar à indiferença. Passa a fazer parte de nós. Sem querermos. Mas está cá.